SOFIA TORRES
Sighthounds
Em Sighthounds, a utilização/recriação de espaços pictóricos aparentemente monocromáticos e/ou em degradé, levou a uma reflexão e a uma vontade de experimentação de uma nova abordagem de algumas personagens, nomeadamente nas figuras de alguns cães, dando-lhes um novo e relevante papel, ao transformar estas pequenas e expressivas entidades em personagens silenciosas e melancólicas, a vaguear num espaço de não presença ou de uma certa ausência infinita.
Nestes trabalhos, procurei pensar a obra como um problema em torno da representação da materialidade da luz e da sua natureza incorpórea, visando codificar plásticamente a sua composição cromática e os seus jogos de incidência e refracção numa relação entre espaços de luz e sombra, decompondo o espaço pictórico numa espécie de sistema de manchas /degradês, onde a sua leitura horizontal recupera, por uma via eminentemente cinética, a objectivação-questionação dos limites do quadro, sugerindo uma continuidade do olhar que acentua esse “espaço ilimitado” que o nosso imaginário prolonga para lá da tela. Os exemplares escolhidos para prefigurarem nas imagens, são predominantemente galgos espanhóis. Estes foram escolhidos/seleccionados principalmente por duas razões: a primeira, consiste de certa forma numa espécie de egoísmo estético, devido ao prazer plástico-expressivo que tenho ao reproduzir/recriar os corpos destes cães de pelo curto, cuja musculatura e estrutura óssea é subtilmente perceptível nos suaves contrapostos delineares dos corpos destas amáveis criaturas, e que, recorrentemente, aparecem transparecendo emoções de lúrida macilência, razão de onde provêm o segundo motivo pelo qual foram utilizados: a concentração ou o passado implícito de histórias de sofrimento ou dor que concentram ou que retêm em si próprios, na leitura de uma imagem generalizada que transparece nestes seres. Por exemplo, sendo o galgo espanhol um cão utilizado para a caça de coelhos e lebres, comummente em Espanha, no fim da época da caça, estes animais são abandonados ou enforcados em árvores, consistindo uma prática comum, enforcar os galgos que fizeram uma boa época em ramos mais altos, (para que tenham uma morte relativamente mais rápida), enquanto que cães que tiveram uma má caçada, são enforcados em ramos onde os seus pés sensivelmente tocam o chão, para que sofram um longo período de agonia até a morte por estrangulamento. Esta noção de história implícita, que creio estar contida tacitamente na presença destes animais, é o que procuro transmitir por via destas imagens, por vezes de forma irónica e paradoxal.
Sofia Torres
Data: 06 de Março
Local: Galeria de arte (piso 0)
Entrada: livre
Local: Galeria de arte (piso 0)
Entrada: livre
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