sexta-feira, 18 de julho de 2008

Exposição de Pintura ( Galeria piso 0)




Isabel Lhano, Elogio Aos Outros

valter hugo mãe



É raro acontecer uma exposição assim, onde o retrato se impõe de modo mais que assumido, impõe-se de modo essencial. Depois de assinalar 20 anos de actividade plástica com uma importante exposição na Cooperativa Árvore, no Porto, Isabel Lhano regressa ao trabalho expondo o que nunca mostrou: o rosto da sua tribo de afectos. A pintora dá a ver, pela primeira vez, o rosto de quantos, ao logo de anos, poderão ter estado subjacentes ao seu imaginário, conhecido por apresentar os corpos intensamente sensuais, mas sem lhes revelar a identidade.
Trata-se da colecção de dezenas de pessoas pintadas, que encaram ou não o espectador, e que farão com que este sinta que, ao invés de visitar a exposição, a exposição o visita a si, se tantos olhares parecem convergir sobre a sua presença. Mas estes olhares não são simplesmente decalque do real, eles têm uma componente interna fundadora, por tanto que, pela perspicácia da artista, eles procuram revelar a essência de cada pessoa. O Elogio do Essencial será, por outras palavras, homenagem a cada retratado que, na autonomia da arte, representa o ser humano na sua diversidade e, por isso, funciona como referência universal; o que está aqui em causa é o afecto como postura vertical, modo de vida, aceitação incondicional do outro.
Dotada de uma invulgar capacidade técnica, Isabel Lhano alia a exímia representatividade à sensibilidade, conseguindo objectos extremamente delicados, ou não fossem as suas criações regidas exactamente por aquele princípio dos afectos. As cores distinguem-se umas das outras para se ligarem; apaixonam-se entre si como se fossem, de facto, pessoas que se aproximam por empatias diversas. A diversidade é vital – o elogia da diversidade também poderia ser um título – e é naquela policromia que cada um se esconde e se define.
Como gente que invade a sala de exposições, esta nova colecção da pintora vilacondense comprova a merecida ovação à artista, ocupada desde sempre com embelezar o mundo a partir da exactidão dos seus pincéis e da fortuna da sua paleta.

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